Os gestores da Prevent Senior devem ser afastados imediatamente e punidos com rigor; mas é preciso pensar também nos clientes da operadora, majoritariamente na terceira idade e que não podem ficar no limbo, sem atendimento
Por João Fortunato
A operadora de saúde Prevent Senior está no centro de um furacão raivoso, que não cessa de expelir más notícias sobre sua conduta ética na gestão médica dos casos de Covid-19, sobretudo nos momentos mais agudos dessa pandemia. A lava que escorre por diferentes fontes de comunicação abala fortemente a credibilidade da empresa. E nas áreas de medicina e saúde, sobretudo, credibilidade é vital. Sem ela, os negócios correm sérios riscos de continuidade.
Não se discute a necessidade de punição rigorosa a todos os envolvidos nesse escândalo que, segundo está sendo apurado, já vitimou no mínimo oito pessoas. De acordo com a CPI do Senado, que investiga o caso depois de denúncia jornalística, estes números podem ser maiores. As imputações começaram pelos médicos da própria operadora, que discordaram da maneira como eram obrigados a tratar os pacientes com suspeita de infecção pelo coronavírus, em total desacordo com o que professa a Ciência sobre a enfermidade. Agora, são ex-pacientes e familiares de pacientes que passaram pelo périplo desse tratamento ineficaz – e não resistiram – que estão na mídia expondo a empresa e suas mazelas.
Será que a Prevent Senior vai resistir à pressão? Esta pergunta não cala porque é motivo de preocupação para milhares de clientes da empresa, a maioria absoluta na Terceira Idade, público-alvo do seu marketing. Se no percurso da investigação a Prevent Senior quebrar ou enfrentar dificuldades financeiras graves, como muitas empreiteiras com as “investigações” da Lava Jato, por exemplo, como ficam estes idosos e idosas, clientes da Prevent Senior, que são considerados um “peso” para a maioria das operadoras de planos e seguro saúde? Serão transferidos para outros, tendo como vantagem apenas a liberação de carências e um ligeiro desconto no primeiro ano de contrato? Trata-se de um filme velho que não pode ser repetido. É preciso pensar a respeito e agir antes que o pior aconteça.
No que diz respeito à continuidade dos negócios, a Operação Lava Jato deve servir de reflexão. Quantas empresas enfrentaram dificuldades, tiveram que ser desmembradas e até mudar de nome para seguir operando? Quantos empregos foram perdidos, quantas famílias foram atingidas? O mesmo não pode se passar com a Prevent Senior. Diante desse quadro, assustador sob todos os aspectos, a ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar – deveria imediatamente decretar intervenção na operadora, colocar um administrador competente e afastar os atuais executivos até que o caso seja concluído. Seria uma das formas de punir os responsáveis por seus crimes – se comprovadamente os cometeram – e manter a operadora em funcionamento.
A Prevent Senior precisa continuar em funcionamento, com novos gestores, seguindo protocolos de eficácia comprovada e procedimentos condizentes com a Ciência. Não dá para ser diferente. A operadora não pode ser tratada como vilã e nem como empresinha de fundo de quintal. Ela existe desde 1997, tem mais de 500 mil vidas, vários hospitais e centros de atendimento nos quais trabalham quase dez mil pessoas. É uma máquina que falhou, mas que precisa ser consertada e seguir funcionando.
Empresas, obviamente, não cometem “pecados”, mas seus administradores sim. Eles podem cometer não um, mas vários e, por isso mesmo, apenas eles devem ser punidos com o rigor da lei. A imagem pública da Prevent Senior está abalada, balançando como um pugilista à beira do nocaute e, por certo, muitos de seus clientes, por este temor, já debandaram ou pensam em fazê-lo. E como uma coisa puxa a outra, o faturamento também deve estar caindo. Até que nível a empresa suporta para se manter em pé e operando? E para preservar o atendimento dessa clientela, que já sofre com esta chuva de notícias ruins, um grande esforço deve ser produzido pelas autoridades para manter a Prevent Senior operando. A sociedade espera uma comunicação clara e objetiva nesse sentido!
João Fortunato
é jornalista,
mestre em Comunicação e Cultura Midiática
e especialista em Gestão de Crise