Definitivamente, o varejo físico não vai morrer. Mas irá passar por várias transformações, inclusive em razão do e-commerce
Por Juliana Neves
O varejo físico vai morrer? Definitivamente não. O varejo físico não vai morrer. No entanto, já começa a passar por várias transformações significativas, e todos nós participamos ativa ou passivamente dessas mudanças.
No entanto, essa primeira transformação que o varejo sofre não é por causa da pandemia e sim em função do e-commerce. A entrada do varejo online fez com que o papel da loja física mudasse.
Nós começamos a observar que as lojas físicas vão perder a relevância enquanto um veículo de transação comercial. O tal do ponto de venda vai deixar de ter uma importância grande para venda porque, afinal de contas, a venda pode acontecer em qualquer mídia: WhatsApp, e-commerce, Facebook e, também, loja física, entre outros. Então, vamos começar a ver a loja física tendo um papel muito mais importante de marca, construção de valor de marca. A loja física sendo um hub de comunidade, um ponto de encontro de uma tribo em torno de um mesmo propósito.
Vamos perceber este ponto ganhando uma relevância significativa para a forma que as pessoas percebem essa marca, e então sim através desse ponto de venda ou ponto de encontro ou ponto de experiência físico vamos construir um novo valor para a marca.
Hoje em dia todas as marcas querem ser uma love brand. Mas o que percebemos é que o próximo passo serão as love brands se transformando em caring brands, marcas que se importam, se preocupam e que cuidam. E os espaços físicos, onde os amantes dessa marca podem se reunir, têm um papel fundamental, super relevante e importante.
No entanto, apesar de o futuro ser a loja mudando um pouco seu papel, perdendo um pouco essa função comercial, sabemos que até chegar a esse ponto no Brasil muita ‘água vai rolar’. E hoje, mais do que nunca, podemos reafirmar a importância do design estratégico de varejo.
A disciplina de design estratégico de varejo de projeto de arquitetura comercial ajuda o cliente a vender mais. Ao expor um bom produto, iluminá-lo bem, entender como atrair um cliente para dentro da loja e alguns truques e armas secretas que usamos em nossos projetos, deixa tudo na loja mais atrativo comercialmente e mais vendedor.
O design estratégico de varejo é essa disciplina que abraça a arquitetura e o visual merchandising e tenta transparecer no espaço físico da loja todos os conceitos da marca.
Design estratégico de varejo
É uma disciplina dentro da arquitetura de interiores que trabalha os projetos comerciais (lojas, bares e restaurantes). Tem algumas especificidades, está de mãos dadas com o marketing o tempo todo, porque quando criamos os projetos de identidade de uma marca no varejo físico, temos que transparecer a identidade dessa marca.
Nós arquitetos e designers de interiores, temos que deixar de lado os nossos gostos pessoais e entender para quem é a marca, quem é a persona dessa marca, como é a casa dessa persona, qual é a atmosfera, quais são os principais valores que ela tem e que precisam ser impressas nesse ponto de venda.
Na medida que você entende que a marca é um encontro de pessoas com o mesmo propósito, que tem os mesmos ideais, a loja é a casa dessa marca, é esse ponto de encontro físico dessas pessoas em torno desse propósito que a marca defende.
Design estratégico de varejo entende e dá visibilidade aos conceitos da marca através de seu espaço físico. Esse espaço físico é projetado a muitas mãos, principalmente pelo arquiteto e designer que está à frente do projeto de interiores. Ele é o maestro dessa orquestra, mas também existe o visual merchandiser, o profissional de comunicação de marca que vai trabalhar as artes e a comunicação dentro do ponto de venda para assim passar uma mensagem muito coesa e concisa do porquê, para quem e como essa marca se posiciona em todas as suas mídias. A loja é uma mídia super importante porque é imersiva. A pessoa literalmente entra dentro e esse posicionamento é impactante para essa marca.
Juliana Neves
é vice-presidente da ABIESV (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo)
e sócia-diretora da Kube Arquitetura. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ e mestre em Design pela PUC-RJ, com pesquisas em Design e Emoção, com ênfase em Design para todos os sentidos.
Foi pesquisadora na Brown University e possui especialização em Branding e Design e Trends Forecast.
Hoje é professora convidada do curso de Retail Design & Branding da PUC-RJ, do curso líbero de Retail Design e de Projetos Comerciais no curso Saperfare de Interiores, ambos no IED Rio.