O Open Banking não vai destruir o sistema tradicional das instituições financeiras, mas vai demandar mais atenção ao relacionamento com o cliente
Por Carlos Souza
Já faz algum tempo que o termo Open Banking ganhou popularidade global. Discussões a respeito do impacto que isso deve trazer para o mercado brasileiro ganham novos capítulos continuamente, ao mesmo tempo que lideranças de diferentes companhias financeiras buscam se adaptar ao novo cenário. Diante de tantas hipóteses, uma questão surge: afinal, qual é o impacto que o Open Banking deve trazer para o mercado brasileiro?
Antes de qualquer coisa, é necessário deixar o sensacionalismo de lado. Essa nova forma de lidar com instituições financeiras não vai destruir o sistema tradicional, mas vai demandar mais atenção ao relacionamento com o cliente. Consumidores poderão migrar de uma instituição para outra com muita facilidade, além de diversificar serviços em diferentes plataformas – bancos, fintechs, neobancos, etc.
As alianças entre o negócio bancário e os novos players tecnológicos se perfilam cada vez mais como um modelo capaz de melhorar a competitividade do setor, frente os desafios que se mostram com a chegada do Open Banking. Para garantir o sucesso desses novos modelos de colaboração, é necessário destacar o papel-chave de fornecedores especializados nesse processo. Empresas que combinam alta especialização com a capacidade de transformação digital vão agilizar a implementação de novas tendências ou fornecer conhecimento sobre a regulamentação de cada região, colaborando para a adoção cada vez mais rápida desse novo modelo de negócio.
Apesar do aumento da oferta de instituições financeiras, o Open Banking em si não irá aumentar a inclusão financeira. Ele é parte de uma transformação ampla que inclui ações claras e direcionadas do governo, agentes reguladores e empresas, sendo estas últimas responsáveis por proporcionar produtos e serviços financeiros customizados e direcionados para este segmento da população brasileira.
Isso não significa que os bancos tenham um mercado menor a explorar. Ao contrário, essas instituições vão competir pela experiência do cliente para se manterem competitivas. Isso demanda agilidade e capacidades cada vez mais avançadas de tecnologia para não perder espaço diante dos novos entrantes.
Essa é uma medida drástica, mas não é necessário pensar em transformações tão profundas como essa. Basta começar pela preocupação com a segurança de dados, por exemplo. O Banco Central deve criar requisitos e padrões que diminuam fortemente o risco de vazamento de dados e vai caber às instituições financeiras se provarem seguras o suficiente para competirem no mercado – a implantação da LGPD em abril já está trazendo consequências para empresas de todos os portes e, no setor financeiro, isso não seria diferente.
Recentemente, o Banco Central divulgou o comunicado N° 33.455 e, de acordo com essa resolução, os dados a serem compartilhados entre instituições serão relativos a produtos e serviços, dados cadastrais, dados transacionais e serviços de pagamento. Essas informações deverão ser compartilhadas pelas instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central, sempre com o consentimento do cliente.
Com mais dados e informações, consequentemente haverá aumento na responsabilidade dos custodiantes das informações. Dessa maneira, o Banco Central deve criar requisitos e padrões que diminuam fortemente o risco de vazamento de dados. Além disso, as empresas devem buscar cada vez mais criar estratégias de cibersegurança e o próprio governo criou leis como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) para garantir que o consumidor não tenha informações sensíveis obtidas por terceiros não autorizados.
Na Europa, a PSD2 (lei de privacidade local) definiu uma série de requisitos mínimos para as instituições interessadas em abrir seus dados. Algumas dessas exigências incluem processos rigorosos de autenticação de clientes, padrões de segurança com base em melhores práticas internacionais e níveis mínimos de tempo para entrega dos dados entre as empresas, por exemplo.
No Brasil, ainda há um longo caminho a trilar, mas estar preparado para o Open Banking é uma premissa fundamental para todas as instituições financeiras do país. Mais do que um avanço, essa nova tecnologia representa uma nova forma de se relacionar com clientes, transformando todo o setor.
Carlos Souza é head de Serviços Financeiros da Minsait, empresa do grupo Indra dedicada a promover a Transformação Digital