Segundo o Instituto FGV, educação financeira precisa estar constantemente na pauta entre os gestores de uma empresa, independentemente de seu porte ou segmento
Por Luiz Gustavo Medina
A boa notícia pra você que está lendo este texto em 2016 é que isso significa que você sobreviveu a 2015. Sobreviveu não significa que superou sem algum contratempo, afinal, estamos num momento em que quase tudo ficou 10% mais caro e que uma em cada dez pessoas que você conhece perdeu o emprego.
Se está difícil pra você, saiba que as empresas enfrentam um problema a mais. Acaba sendo inevitável imaginar (e constatar) que um funcionário com dificuldades financeiras, que dorme e come pior, e quase nunca se diverte, trabalhe menos e com menor eficiência do que se tudo estivesse bem. E não dá pra “mudar” essa chave da noite para o dia.
O paradoxo está em uma empresa que lhe emprega e, portanto lhe paga, ter problemas porque você está sem renda, endividado ou com algo mais sério. Por que isso ocorre e por que isso é, sim, um assunto a ser discutido pelas empresas?
O porquê isso ocorre deriva de 516 anos em que o Brasil não considerou importante oferecer algum tipo de educação financeira para as pessoas. Aqui o sujeito tem cartão de crédito, renda, poder e estímulo para fazer financiamento, tudo isso sem nunca ter tido nem dez minutos de esclarecimento sobre o que é receita, despesa, juros e o que é se endividar. Assim, com várias “armas” na mão e um conhecimento similar a um gorila, parece-me claro que algumas pessoas irão se machucar.
Segundo o Instituto FGV, educação financeira precisa estar constantemente na pauta entre os gestores de uma empresa, independentemente de seu porte ou segmento, no mínimo por dois motivos:
1. O descontrole financeiro está diretamente ligado às ausências no trabalho em 58% das organizações;
2. O excesso de dívidas abala negativamente a produtividade em 78% destas empresas.
Quando sabemos que 55% dos brasileiros hoje estão seriamente endividados e 34% estão inadimplentes, estamos falando de uma “bomba invisível” que não pode mais ser ignorada nas companhias, especialmente enquanto o assunto produtividade for a questão a ser atingida.
Com esses números, desenvolver o funcionário para que o mesmo cresça em desempenho e produtividade sem antes equacionar o que esta lhe tirando o sono, parece-me muito com a tarefa de enxugar gelo.
Infelizmente para o curto prazo, porém felizmente para um país melhor, algumas empresas já estão investindo em palestras, cursos e consultorias a fim de ajudar o seu público interno a lidar com um cenário assustador, como uma taxa de juros anual de 300% no cartão de crédito, por exemplo.
Além do benefício de ter de volta um funcionário concentrado, a decisão do gestor de implementar um plano de educação financeira na empresa acaba, lá na frente, sendo muito valorizada pelo trabalhador. A vida familiar fica muito prejudicada quando se tem dívidas e receber um suporte para superar essa dificuldade gera uma eterna gratidão.
Se você, gestor, perceber que funcionários que nunca faltavam agora se ausentam por qualquer motivo; se perceber que a quantidade de pedidos de antecipação de férias ou 13º aumentou, tenha certeza que o problema já existe e não vai sair dali sozinho. Se por qualquer razão isso ainda não chegou à sua empresa, não perca a chance de resolver um problema enquanto ele ainda está pequeno. Pois, como todos já sabemos, a nossa crise política e econômica ainda estará presente em 2016.
Luiz Gustavo Medina é formado em Finanças pelo Insper e trabalhou 13 anos do mercado financeiro. É autor dos livros ''Investindo em Ações – Os primeiros passos'', “Investindo sem Erro” e "Investindo no Futuro", todos pela Editora Saraiva. Foi controller da Luandre – Soluções em Recursos Humanos. Teco Medina, como é conhecido, é palestrante e co-apresentador dos programas ''Fim de Expediente'', "Hora de Expediente" e "Call de Abertura" na rádio CBN. Esse último, uma conversa sobre economia junto com o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman.
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