Quando se é conivente com a indústria pirata também se apóia práticas trabalhistas ilícitas, irregulares, ilegais e até atos criminosos. Já pensou nisso?
Por Marici Ferreira
Se você já comprou, usou ou apoiou o mercado de produtos piratas, não vai se incomodar se nós te chamarmos de pirata, vai? Provavelmente não, mas deveria… Afinal, quando te chamamos de pirata, estamos comparando você a um membro do crime organizado. Aquele mesmo que se beneficia com todos os esquemas ilegais que a gente condena e acaba dizendo: “Eu pago meus impostos para conviver com esse nível de corrupção do país?!”
Sim, infelizmente quando você é conivente com a indústria de produtos ilegais você deveria conviver com toda a violência, insegurança de forma natural e sem reclamar, nem quando você ficar sabendo que pessoas foram prejudicadas por tomarem remédios falsificados, nem quando souber que uma senhora teve a saúde prejudicada pois usou uma prótese pirata, ou que um avião caiu porque a peça pirata usada nas turbinas falhou.
Todas essas tragédias acontecem porque você acha que não tem problema comprar um DVD pirata, um filme, uma camisa de futebol ou um tênis falsificado. Aquele que compra produtos ilegais é responsável por capitalizar e fortalecer a indústria do crime.
E quando você acha que compra pirata para “ajudar o tiozinho do camelô” é como se você tivesse, no longo prazo, jogando esse trabalhador num buraco social ainda mais profundo. Daí não adianta falar em políticas sociais, direitos do trabalhador, igualdade, etc…
Porque quando você é conivente com a indústria pirata você também apóia práticas trabalhistas ilícitas, irregulares, ilegais. Automaticamente você coloca uma porção de trabalhadores em condições péssimas de trabalho, porque você apóia atos criminosos…
Para se safar de um auto exame de consciência, você pode até dizer que o crime de pirataria não causa tanto impacto quanto o narcotráfico. Errado! Justamente porque muitas pessoas acreditam que a pirataria é um crime sem maiores efeitos, é que o estrago é grande. Segundo a Interpol, um estudo realizado mostrou que o mercado pirata movimenta um volume maior de dinheiro sujo se comparado ao narcotráfico. Já parou para pensar nisso?
Para deixar o cenário bem real, números recentes mostram que a pirataria gera um rombo de mais de R$ 100 bilhões ao ano para os cofres públicos. Por exemplo, com R$ 1,5 bilhão daria para construir um hospital capaz de atender 450 pessoas por dia, 10 mil consultas especializadas e 1.300 cirurgias, por mês. Ao todo, seriam mais 2.700 atendimentos diários no Estado, 60 mil novas consultas e até 7.800 procedimentos cirúrgicos. Já parou para pensar nisso?
Então veja que o impacto social negativo da pirataria é imenso. Pense você mesmo em tudo o que a sociedade (quando dizemos sociedade, pensamos em você e na sua família) poderia ganhar com esse rio de dinheiro que vai para o crime, e que cria condições de emprego somente fora do nosso país.
Atualmente formou-se na América Latina uma aliança contra o mercado ilícito que se fortalece nos países membros. É uma iniciativa relevante e que merece atenção. E o País espera alcançar ótimos resultados a partir das discussões ali estabelecidas.
Mas as pessoas admitem que consomem pirataria sem o menor constrangimento e esse é o maior vilão do combate ao comércio ilegal: a banalização da prática criminosa.
É preciso ampliar o debate. Nada será tão eficiente em termos de combate à pirataria do que fortalecer a prática da legalidade, temos certeza. Deixar clara a noção de que consumir produtos ilegais é tão absurdo quanto cometer um furto. Conscientizar o cidadão de que pirataria é crime e que ao praticá-lo ele se iguala aos piores entre nós.
Abordar o valor da legalidade, como pauta positiva, parece um acertado caminho, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo.
Para nós, essa nova percepção pode fazer a diferença. Mudar uma cultura de banalização do crime não é tarefa fácil e também não somos ingênuos de achar que será de uma hora para a outra. Mas o impossível sempre existe até que alguém se disponha a realizar. Vamos nessa?
Vamos juntos transformar? Nós acreditamos, e o mundo precisa e agradece.
Marici Ferreira é presidente da ABRAL (Associação Brasileira de Licenciamento) e diretora-presidente da Editora EP Grupo, especializada no segmento infantil.