Diante dos mega vazamentos de dados, o consumidor deve redobrar a atenção com seus dados e trocar logo todas as senhas que dão acesso a plataformas na Internet
Vazamentos de dados viraram uma pandemia (no sentido figurado) no Brasil e no mundo. Somente neste ano, no nosso país, já são três anúncios de que informações de cidadãos foram parar em mãos alheias.
Ou seja, todo cuidado é pouco para um login em qualquer plataforma na internet ou fazer um cadastro numa plataforma digital. Estes simples atos podem trazer muita dor de cabeça. Assim, consumidores e cidadãos têm de ligar o alerta a cada acesso, a cada dado informado.
Mas o que pode ser feito para que os nossos dados não caiam em mãos alheias. E, se caírem, quais as providências devemos tomar?
Estas são algumas das questões que serão respondidas por Marcelo Campelo, advogado especialista em direito criminal. Ele é o entrevistado da jornalista Angela Crespo no programa Consumo em Pauta.
Números dos vazamentos de dados
Em janeiro, mais de 223 milhões de dados de brasileiros foram vazados, conforme a empresa de segurança cibernética Psafe. A princípio, entre os dados estão, no primeiro evento divulgado, CPF, nome, sexo e data de nascimento, além de CNPJs e dados de automóveis. Já no segundo, informações de escolaridade, benefícios do INSS e programas sociais, renda, score de crédito, perfis de redes sociais e fotografias pessoais. Por último, dados de mais de 100 milhões de celulares.
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Sem contar os vazamentos de dados que ocorreram no ano passado. Entre eles, 243 milhões de informações que foram acessadas por hackers do Ministério da Saúde.
Outro vazamento de dados agora em fevereiro de dar arrepio, este mundial, foi de cerca de 3,27 bilhões de e-mails, senhas e logins de empresas como Gmail, Hotmail, Neteflix e Linkedin. Conforme CLM, distribuidora latino-americana com foco em cibersegurança, “este foi o maior vazamento de dados de todos os tempos”.
Como nossos dados podem ser utilizados?
Para o advogado, o cardápio é imenso. Os dados podem ser “vendidos” na WEB para golpistas para inúmeras fraudes. Um exemplo, com os dados do carro e do dono um golpista pode anunciar o veículo em sites de vendas na internet. O dono real do carro provavelmente terá uma dor de cabeça, mas que comprar terá prejuízo financeiro: ficará sem o carro e sem o dinheiro.
Outro exemplo: com o número do CPF, endereço e nome da mãe obtidos por golpistas com os vazamentos de dados é possível obter financiamentos e empréstimos, fazer compras parceladas, abrir conta corrente, etc. Sem contar que é possível contratar linhas telefônicas. Todas as contas destes golpes vão para o dono dos dados.
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“Por exemplo, se pegam os dados de um consumidor com bom score, terão facilidade de fazer um empréstimo, uma vez que também houve vazamentos de dados sobre renda, perfil de financiamento, de endividamento e fotos de muitos brasileiros”, acrescenta Campelo.
O advogado cita na entrevista um caso no qual ele atuou. Um cliente seu recebeu o documento de licenciamento do veículo com alienação fiduciária, fruto de um golpe. E o carro estava quitado. “Para nós, advogados, desmontar ou reverter esta situação não é muito fácil. O dono real do veículo fica numa sinuca de bico, pois se não pagar as prestações corre o risco de perder seu bem, uma vez que ele foi alienado pelo banco.”
Como saber se os seus dados foram vazados
O Banco Central disponibiliza acesso a um serviço, chamado Registrato. Nele é possível consultar todas as contas bancárias de um CPF (ativas e inativas), as dívidas (quitadas ou não), operações de crédito, entre outras. “Constatada alguma operação que não foi feita pelo dono do CPF, deve-se procurar rapidamente a instituição financeira responsável pela transação”, alerta o advogado.
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Outra possibilidade é assinar os serviços dos birôs de crédito – Serasa e Boa Vista – de acompanhamento de CPF. Eles informam ao dono do documento sempre que o CPF é consultado por alguma empresa. “Daí, já deve acender o alerta de que seus dados estão sendo usados de forma ilícita”, diz Capelo.
Para esta situação, Campelo também conta um caso. Uma cliente dele conseguiu que uma empresa que teve dados de consumidores vazados assumisse a assinatura de monitoramento do seu CPF. “Mas não é algo muito fácil de se obter. Esta ação fica restrita a empresas proativas, que têm consciência do risco que colocaram seu cliente.”
Proteja suas informações
Por mais que seja difícil acompanhar o caminho dos nossos dados ao serem repassados para uma empresa, o advogado dá algumas dicas de cuidados.
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Por exemplo, desconfiar de mensagens recebidas por e-mail ou serviços de mensagem. “Se possível, conferir todo boleto que chega nas suas mãos, assim como checar negociações de dívidas pelo meio digital.”
Ele acrescenta que, mesmo vivendo hoje num mundo quase que digital, algumas coisas temos de voltar ao contato humano para confirmar se é real ou um golpe.
Outra dica do advogado, diante dos mega vazamentos de dados, é trocar todas as senhas de bancos, cartões e até de lojas virtuais. “Aliás, o recomendado é que a troca seja feita periodicamente”, acrescenta. E na formulação de nova senha, além de números, abusar de caracteres especiais e de letras maiúsculas e minúsculas. “Por fim, inserir a autenticação de dois fatores em todas as senhas. Isso porque, se a senha for descoberta será preciso digitar um código gerado no celular para acessar o serviço. Ou seja, se cria uma barreira para ataques.”
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Assim como, ao fazer compras online, não aceitar que o número do cartão de crédito ou outros documentos fique vinculado ao navegador. “Deve-se, ainda, optar por cartões virtuais no pagamento, que só podem ser usados uma vez ou tem um tempo de uso restrito.”
Foi vítima de um golpista?
Ao suspeitar de qualquer ação que pode ser golpe após estes mega vazamentos de dados, cabe ao consumidor registrar um Boletim de Ocorrência numa delegacia presencial ou virtual. Outra atitude é comunicar bancos, administradoras de cartão ou agências reguladoras. E sempre entrar em contato com a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), instituição criada com a chegada da Lei Geral de Proteção de Dados.
Quer saber mais sobre o que fazer em caso de vazamentos de dados? Acesse a Rádio Mega Brasil Online nesta segunda (22/2), às 16 horas. Reapresentações na terça, às 9 horas, e na quarta, às 20 horas.